Interview in the Portuguese newspaper “Vida Economica”

Interview in the Portuguese newspaper "Vida Economica"

 

Joseph Ritzen in an interview with João Mendes from Vida Económica, a newspaper from Proto, Portugal, on April 15, 2011.

 

Joseph Ritzen, presidente da Universidade de Maastricht, afirma

FRACASSO DA ESTRATÉGIA DE LISBOA RESULTA DA FALTA DE MECANISMOS PARA ATINGIR OS OBJECTIVOS

A reforma do ensino superior europeu é uma necessidade, apesar deconduzir aos desaires eleitorais – afirma Joseph Ritzen. Em entrevista à “Vida Económica”, o presidente da Universidade de Maastricht e anterior ministro da Educação da Holanda, considera que as universidades devem mudar para passarmos a ter pessoas mais internacionais e mais jovens a estudar e a trabalhar. Se o processo de mudança não avançar a Europa será confrontada com problemas globais complexos para os quais há dificuldade em encontrar respostas adequadas.

Vida Económica – As universidades podem contribuir para um maior dinamismo no continente europeu?

Joseph Ritzen – A Europa não pode ser uma economia do conhecimento sem universidades, eas universidades têm o potencial de transformar a Europa no sonho que estava nas mentes e nos corações dos (milhões) de pessoas que a fundaram.

 

VE – No manifesto Empower European Universities afirma que a Europa está em muitos aspectos em crise. Pode a Europa enfrentar essa crise sem as universidades europeias?

JR – Para enfrentar uma crise é necessário compreender as causas da crise e ter uma ideia do impacto das soluções possíveis. Isso requer pesquisa, por um lado, e um ensino assente na investigação que caracteriza as universidades, por outro lado. Só então seremos capazes de inovar, para refrescar o nosso potencial produtivo e seu contexto na sociedade. A alternativa é reagir irracionalmente.

E isso já está a acontecer, olhando para o sucesso dos partidos de extrema-direita em toda a Europa (o meu país incluído). Os eleitores típicos nestes partidos são, de facto, pessoas com menor escolaridade do que a que é normalmente necessária para compreender a complexidade dos problemas que nossa sociedade está a enfrentar.


VE – Qual é a contribuição do “Empower European University (EEU) ONG para alcançar esse objectivo?

JR – Actualmente, o principal problema político na Europa é a resistência à mudança. Lembrome do “Economist” ir muito longe com esse parecer, argumentando que o problema da Europa é “os seus eleitores lamurientos e os seus líderes políticos cobardes”. Esta visão é muito pessimista, mas esta resistência é evidente, também nas universidades. Eu podia vê-la como presidente da Universidade de Maastricht, e antes como o ministro da Educação da Holanda. Os cidadãos e os funcionários estão com medo de perder com a mudança. Mas uma investigação mais eficaz e uma força de trabalho mais produtiva só trazem ganhos para a sociedade.

Um debate sério sobre o ensino superior vai convencer as partes envolvidas, o pessoal da universidade, os decisores políticos e cidadãos que se sentem mais inseguros sobre a reforma das universidades. Este debate tem que ser iniciado por pessoas bem informadas que já estão de acordo sobre a direcção a ser seguida. Esse era o significado do encontro de Bruxelas, e será a contribuição da EEU para o processo político europeu.

 

VE – Os governos nacionais não sentem como uma prioridade fazer do ensino superior uma estratégia europeia?

JR – A situação política actual está longe de ser benigna para colher os benefícios da maior europeização no ensino superior.

Há necessidade de uma participação activa das universidades no debate sobre a reforma do ensino superior, a fim de convencer a sociedade, e parte do pessoal das próprias universidades, sobre como fazer do ensino superior uma questão europeia.

 

VE – Será que a estratégia Europa 2020 vai alterar este “status quo”?

JR – A direcção indicada pela Comissão Europeia é o caminho certo.

Eu não falo só da estratégia Europa 2020, mas especialmente na agenda da modernização das Universidades de 2006 (ao qual a estratégia Europa 2020 se refere explicitamente). Mas, como eu já disse, apontar para a direcção certa, não é suficiente, como o fracasso da estratégia de Lisboa também mostra. Muitas preocupações foram expressas na reunião de Bruxelas sobre a ineficácia da política europeia, que muitas vezes define “palavras sem mecanismos” para implementá-las. Precisamos de uma nova força empurrando para a direcção indicada pelas instituições europeias. As universidades deverão ser essa força. Eles devem tomar parte activa na definição da política de ensino superior, em vez de colocar os seus espinhos contra qualquer reforma.

 

VE – O livro “A Chance for European Universities” e uma cópia do Manifesto foi apresentado ao comissário europeu para Educação, Cultura e Multilinguismo e Juventude, Androulla Vassiliou. As posições do manifesto vão influenciar a estratégia Europa 2020?

JR – Tenho a certeza que sim. A Androulla Vassiliou garantiume que vai ter em consideração tanto o Manifesto e a actividade da Empower Universitário Europeu, a ONG que irá agir para promover as ideias do Manifesto.

O ponto é que não será o próprio Manifesto a mudar as políticas, já que suas ideias já estavam presentes: os signatários já concordaram com os pontos do Manifesto antes de discutilos. O que é novo é a intenção dos signatários para trazer uma nova voz ao debate sobre o ensino superior, a voz da sociedade civil informada.

 

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